quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MINHA HISTÓRIA DE LEITURA

“A minha história de leitura inicial é muito precária, retardatária e clandestina, diferente do mundo de livros, que fez parte da vida de outros escritores. Ela serve para questionar um certo senso comum: para ser escritor, é preciso ter lido os clássicos, sem esquecer a filosofia, a história e os contos da carochinha.

Ninguém me contou histórias, não havia livros em casa, meus pais mal sabiam ler. Aquela biblioteca escolar nunca existiu. Não houve clássicos na minha infância. Quando penso como comecei a ler, lembro de um peixe alado sem saber muito bem a razão. Talvez porque essa imagem - do espinhaço às asas invariavelmente azuis - me revele a realidade e o sonho casados em partes iguais.






Meu primeiro contato com os livros só aconteceu aos 15 anos, e a obra que me abriu as portas do maravilhoso mundo das narrativas foi Os padres também amam, de Adelaide Carraro, para muitos leitura apelativa, de "sacanagem" mesmo, principalmente esta que mistura sexo com religião.

Foi isso: comecei com pornografia, no meu caso salutar e necessária para a satisfação de algumas curiosidades sexuais da adolescência. Bem depois, só com 18 anos, fui ler [Antoine] Saint-Exupéry, Machado de Assis e Clarice Lispector, que é minha companheira de leitura desde sempre e, falando subjetivamente, a escritora que pedi a um peixe alado, sem a menor noção de palavras ou anzóis. Vieram então Graciliano Ramos, [Julio] Cortázar, [Gabriel] García Márquez, Murilo Rubião e tantos outros.

Hoje, acredito que essa ausência de leitura até a adolescência e, depois, um excesso de livros, personagens e pessoas fizeram de mim um escritor. Um toque inicial do acaso seguido de um caso definitivo de amor.”

Entrevista do escritor Jorge Miguel Marinho a Editora Ática